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domingo, 19 de agosto de 2012

Montadoras embolsam benefícios e aumentam importação em 212%


Além de demitir, quase liquidam a cadeia produtiva
após declarar que a General Motors, em troca de desonerações e outros privilégios, “cumpre o compromisso de não demissão e geração de empregos” e que a luta dos operários da GM em São José dos Campos, para manter seus empregos, era um “detalhe que não cabe ao governo entrar”, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, emitiu nota, declarando que “não ia tolerar o descumprimento do acordo de não demissão”. Mantega não fez menção às suas declarações de 48 horas antes. Na segunda-feira, depois de patrocinar um acordo da GM com o sindicato em São José dos Campos (um péssimo acordo – v. pág. 5), o ministro disse: “gostei do desfecho porque as demissões não se verificarão. Estava ficando preocupado” (sic). As duas coisas não são verdade, e, se tudo isso parece a tarantela do italiano doido, o leitor tem toda razão em assim achar. Mas, certamente, não foi por loucura que Mantega, em poucos dias, mostrou-se um pensador tão consequente. O mais provável é que tenha levado um puxão na orelha, numa ou nas duas – método pedagógico fora de moda, quando se trata de crianças, mas bem adequado a fariseus. O problema é que ele somente mudou as declarações – a política continua a mesma. A GM - segundo a própria Anfavea, que reúne as multinacionais do setor - aumentou a produção e as vendas, e não pouco, com as últimas benesses que recebeu (cf. Carta da Anfavea, nº 315, ag./2012, p. 5). Então, por que essa ameaça de demissão sobre os trabalhadores? Porque, desde que passaram a receber desonerações e dinheiro do BNDES por conta “da crise”, as montadoras multinacionais aumentaram a importação de automóveis em 280,98%. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Secex/MDIC), a importação de automóveis atingiu os seguintes valores:
2007: US$ 3.121.238.541
2008: US$ 5.342.623.583
 2009: US$ 5.466.423.396
2010: US$ 8.543.375.826
2011: US$ 11.891.443.314
Em número de automóveis importados que foram licenciados no Brasil, houve um aumento de 212,42%. Os números abaixo são da própria Anfavea e do Sindipeças/Abipeças:
2007: 185.306
2008: 230.908
2009: 314.343
2010: 431.087
2011: 578.931
Este ano, até junho, as importações de automóveis já estavam em US$ 4.805.450.985.
Resumindo: as montadoras multinacionais embolsaram as vantagens fiscais e creditícias que o governo concedeu e passaram a importar, já prontos, uma parte cada vez maior dos veículos que vendem – não somente automóveis, mas também veículos comerciais leves, caminhões e até ônibus. O resultado pode ver-se com clareza no aumento da participação dos veículos importados no licenciamento total de veículos novos a cada ano:
2007: 11,25%
 2008: 13,30%
 2009: 15,56%
 2010: 18,78%
2011: 23,62%
 Isso foi o que as multinacionais do setor automotivo fizeram em troca de R$ 26 bilhões em desonerações e – numa consulta rápida – R$ 4.543.222.079 em financiamentos do BNDES, sem incluir financiamentos do comércio exterior, que são mantidos em sigilo. Resta acrescentar que além das importações de veículos já prontos, as montadoras multinacionais promoveram uma pororoca de importações de autopeças. Elas quase liquidaram completamente a cadeia produtiva interna, pois, sobretudo, montam o que importam – e não apenas diretamente das matrizes. Por exemplo, sem contar os EUA (de onde vem a maior parte das importações de autopeças), são destinadas às montadoras multinacionais nada menos que 81% das autopeças importadas da Argentina, 65% das importadas da Coreia do Sul, 72% das importadas da Rússia e 96% das importadas da África do Sul (cf. Sindipeças, “Relatório de Análise das Importações Brasileiras de Autopeças”, maio/2012). Em síntese, o comércio de autopeças com esses países é um comércio entre filiais ou subsidiárias de multinacionais, sem grande ou nenhum proveito para esses países ou para o Brasil. Até 1988, não havia, no Brasil, nenhuma importação de autopeças, que eram fabricadas por empresas nacionais, como resultado da política implantada, ainda no final dos anos 50, pelo presidente Juscelino Kubitschek. Mas não nos alonguemos tanto. Tomemos o ano de 1994 como referência, pois foi o último ano antes do malfadado governo Fernando Henrique. De 1994 a 2011, as importações de autopeças aumentaram +661,09%. Entre 2007 e 2011, essas importações aumentaram +67,22%, ao mesmo tempo que as importações de automóveis aumentaram +280,98% (em valor; em número de veículos: +212,42%). Essa é a beleza da política do sr. Mantega em relação às multinacionais. Dar dinheiro público, nosso, e receber cada vez menos emprego e um rombo crescente nas contas externas, vitimadas por remessas de lucros e importações. Depois, diz ele que fica “preocupado”. Antes fosse verdade, partindo de alguém que até agora manifestou a única preocupação de decorar os relatórios do FMI, sobretudo as suas mais sábias recomendações.
CARLOS LOPES
MODIFICADO DE: http://www.horadopovo.com.br/

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