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domingo, 20 de maio de 2012

IstoÉ não tem de indenizar o Paulo Preto, acusado de fazer caixa 2 em campanha do PSDB


Revista IstoÉ não terá de indenizar Paulo Preto Por Camila Ribeiro de Mendonça do site Consultor Jurídico Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, não obteve êxito na ação por danos morais contra a Revista IstoÉ e os jornalistas Sérgio Pardellas, Claudio Dantas Sequeira e Alan Rodrigues. Souza alegou que os réus foram responsáveis por reportagens baseadas em informações caluniosas que ofenderam sua honra e imagem. Na sentença, o juiz Mario Chiuvite Júnior, da 22ª Vara Cível de São Paulo, entendeu que a população tem direito ao livre acesso à informação e que a conduta dos jornalistas foi adequada. A primeira reportagem da edição de 13 de agosto de 2010 relata que o autor fora acusado por líderes do PSDB de ter arrecadado dinheiro de empresários em nome do partido e não entregá-lo para o caixa da campanha. “Segundo oito dos principais líderes e parlamentares do PSDB ouvidos por Isto É, Souza, também conhecido como Paulo Preto ou Negão, teria arrecadado pelo menos R$ 4 milhões para as campanhas eleitorais de 2010, mas os recursos não chegaram ao caixa do comitê do presidenciável José Serra. Como se trata de dinheiro sem origem declarada, o partido não tem sequer como mover um processo judicial.” A outra reportagem, de 15 de outubro do mesmo ano, intitulada “O poderoso Paulo Preto — parte 2″, fala do desdobramento da história e diz que “o homem acusado pelo PSDB de dar sumiço em R$ 4 milhões da campanha tucana faz ameaças e passa a ser defendido por Serra”. A última reportagem questionada, do dia 29 de outubro de 2010, fala de Paulo Preto quando diretor da Dersa. “Vão ficando cada vez mais claras as relações comprometedoras do ex-diretor do Dersa com as empreiteiras responsáveis pelas principais obras de São Paulo.” Outro trecho da reportagem afirma que o íntimo relacionamento de Paulo Preto com as empreiteiras do rodoanel não se restringe ao negócio envolvendo uma empresa de familiares. “Na última semana, denúncia da Folha de S.Paulo revelou que Paulo Preto, um dia após assumir a diretoria do Dersa, assinou uma alteração contratual na obra. Essa mudança permitiu às empreiteiras fazer alterações no projeto do rodoanel e até utilizar materiais mais baratos.” Na petição inicial, o autor argumentou que os réus macularam a sua honra ao reproduzirem, sem apurar a veracidade das notícias publicadas por outros veículos. A defesa contra-argumentou afirmando que a narrativa das reportagens não extrapolou o limite da informação de um assunto de interesse público por se tratar de desvio de verbas em uma campanha eleitoral. Aduziram também que as reportagens foram elaboradas a partir de entrevistas, com a identificação da maioria das fontes e documentos. Reiteraram, por fim, que não atribuíram ao autor nenhuma condição valorativa, limitando-se a divulgar entrevistas e fatos incontroversos, inclusive com documentos diagramados, narrando assunto de evidente interesse público, sem qualquer tipo de ilação ou interpretação caluniosa ou difamatória. Diante disso o juiz entendeu que a honra do autor não foi ofendida e que “as provas documentais carreadas aos autos não indicaram precisamente a imputação de conduta efetiva atribuída à parte ré, capaz de ensejar a especificação de um fato descritivo da sua intenção (dolo direto da parte ré) de atingir a honra e a imagem da parte autora, não se denotando, pois, a prática de efetivo ato ilícito no presente caso”. Chiuvite ainda ressaltou que as reportagens expressam a liberdade da divulgação de notícias de interesse público, mas sem a concreta constatação da intenção de se atingir a honra e a imagem do autor de forma desproporcional e prejudicial. Para ele, a forma de divulgação de notícias, de modo objetivo, sem conotações manifestamente desproporcionais, com a menção nas reportagens às respectivas fontes informativas, apenas servem para informar os leitores de fatos pertinentes a obras e fatos administrativos importantes à coletividade. Clique aqui para ler a sentença. Camila Ribeiro de Mendonça é repórter da revista Consultor Jurídico. Fonte: Revista Consultor Jurídico, 24 de dezembro de 2011
VIA: http://paranablogs.wordpress.com/fig

Onde estão os problemas


RUI RAIOL

Às vezes, olho pessoas caminhando nas ruas e reflito quantos problemas elas devem carregar. Vejo o desenho de seus corpos frágeis, cortando o espaço, e fico admirado de que é justamente naquela porção de matéria que moram tantas preocupações. Por um ensaio, imagino que se o transeunte deixa de existir, desaparecendo aquele receptáculo, some também um mundo de situações que muito podem incomodá-lo.
Onde estão os problemas do mundo? Desde a preocupação com o alimento diário até grandes questões mundiais? Por incrível que pareça, quase todos os problemas do mundo estão dentro da gente. Eles estão em nossa mente, em nosso mundo imaginário e emotivo.
Faça agora um inventário de seus problemas e descubra quanto de realidade eles contêm. Pouco. Muito pouco. Para começo de conversa, grande parte dos problemas está fora de cronologia, situam-se no passado ou no futuro. Se provêm de tempo decorrido, eles surgem como frustração, remorso ou arrependimento. Emocionais. Desprovidos de realidade fática, algo que temos hospedado para nos atormentar. Se problemas têm por base o futuro, então eles são expectativa, ansiedade, medo. Novamente, mentais. Desprovidos de realidade, porque ainda não atingimos o tempo à nossa frente. Deveríamos abandonar esse mau presságio. Dentro de uma abordagem bastante ampla, o mundo não tem problemas. Temos nós.
Pense comigo: uma pessoa vive amargurada porque não consegue pagar uma dívida com um banco. Este, sem dar a mínima para a saúde do devedor, liga todo dia. Perturba. Processa. Executa. A pobre pessoa não encontra paz. Não dorme direito. Não suportando a pressão, suicida-se. Sabe o que vai mudar no cenário do dia? Nada. Dia seguinte, o banco abrirá normalmente. As máquinas de cobrança vão ligar de novo. Sabendo do óbito, o banco acionará sua seguradora, que o indenizará, restabelecendo-lhe o capital. Ora, se quando morremos, um problema pode desaparecer, por que não podemos ser perdoados em vida? Hipocrisia. Desonestidade. Iniquidade. Dívida impagável. Tudo isto tem o banco, que age dessa forma. E o devedor vivo? Não, ele não tem nenhum problema, pois sabe que sua vida não está nesse nível de negócio. 
Empreguei este exemplo extremo para demonstrar que muitos problemas que nos atormentam não estão com essa bola toda. Não são o monstro que aparentam ser. E também para falar de um problema mais real. Grande maioria, porém, não lida com esse tipo de situação. Muitos problemas só existem em nossa cabeça. Preocupação. Isto mesmo: pré-ocupação. Estamos atarefados mentalmente com o tempo que ainda não chegou, sem pelo menos sabermos se o alcançaremos. Ansiedade. Medo. Insegurança. Em nome de quê? Por que motivo? Pela vida, diriam alguns. Mas  a vida é algo tão indiferente a esse mundo cognitivo sombrio! Resume-se a um punhado de ar, um gole d’água, uns raios de luz e um pedaço de pão. É isso que faz a nossa máquina girar. E como preocupação cansa, pelo menos poupemos energia.
Desaparecendo o homem, desaparecem os problemas. Individuais e coletivos. Imagine que a própria Terra estaria a salvo se a humanidade fosse dar uma voltinha no espaço, pois mesmo problemas desse tipo têm solução. Florestas. Rios. Mares. Fauna. Tudo estaria salvo. Os problemas não estão no mundo. Estão em nossas mentes. Em nossas ações. Não é possível, portanto, que nossa presença aqui seja algo tão negativo. Não é. Vamos lá. Anime-se! Valemos mais enquanto estamos vivos. Pensemos somente em soluções, jamais em problemas. E, se não as encontrarmos, confiemos em Deus e durmamos.

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RUI RAIOL é escritor 
FONTE; 
http://blogdoespacoaberto.blogspot.com.br/2012/04/onde-estao-os-problemas.html

Classe média: como desatar esse nó?

Fórum de Direitos e Cidadania da Presidência da República 15/09/2011 Marilena Chaui Estamos acostumados a aceitar a definição liberal da democracia como regime da lei e da ordem para a garantia das liberdades individuais. Visto que o pensamento e a prática liberais identificam liberdade e competição, essa definição da democracia significa, em primeiro lugar, que a liberdade se reduz à competição econômica da chamada “livre iniciativa” e à competição política entre partidos que disputam eleições; em segundo, que há uma redução da lei à potência judiciária para limitar o poder político, defendendo a sociedade contra a tirania, pois a lei garante os governos escolhidos pela vontade da maioria; em terceiro, que há uma identificação entre a ordem e a potência dos poderes executivo e judiciário para conter os conflitos sociais, impedindo sua explicitação e desenvolvimento por meio da repressão; e, em quarto lugar, que, embora a democracia apareça justificada como “valor” ou como “bem”, é encarada, de fato, pelo critério da eficácia, medida, no plano legislativo, pela ação dos representantes, entendidos como políticos profissionais, e, no plano do poder executivo, pela atividade de um conjunto de técnicos supostamente competentes aos quais cabe a direção do Estado. A democracia é, assim, reduzida a um regime político eficaz, baseado na idéia de cidadania organizada em partidos políticos, e se manifesta no processo eleitoral de escolha dos representantes, na rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas para os problemas econômicos e sociais. Ora, há, na prática democrática e nas idéias democráticas, uma profundidade e uma verdade muito maiores e superiores ao que liberalismo percebe e deixa perceber. Que significam as eleições? Muito mais do que a mera rotatividade de governos ou a alternância no poder, elas simbolizam o essencial da democracia, ou seja, que o poder não se identifica com os ocupantes do governo, não lhes pertence, mas é sempre um lugar vazio que, periodicamente, os cidadãos preenchem com representantes, podendo revogar seus mandatos se não cumprirem o que lhes foi delegado para representar. É também característica da democracia que somente nela se torne claro o princípio republicano da separação entre o público e o privado. De fato, com a idéia e a prática de soberania popular, nela se distinguem o poder e o governo – o primeiro pertence aos cidadãos, que o exercem instituindo as leis e as instituições políticas ou o Estado; o segundo é uma delegação de poder, por meio de eleições, para que alguns (legislativo, executivo, judiciário) assumam a direção da coisa pública. Em outras palavras, somente na democracia os governantes não podem identificar-se ao poder, nem apropriar-se privadamente dele. Que significam as idéias de situação e oposição, maioria e minoria, cujas vontades devem ser respeitadas e garantidas pela lei? Elas vão muito além dessa aparência. Significam que a sociedade não é uma comunidade una e indivisa voltada para o bem comum obtido por consenso, mas, ao contrário, que está internamente dividida em classes e que essas divisões devem expressar-se publicamente. Da mesma maneira, as idéias de igualdade e liberdade como direitos civis dos cidadãos vão muito além de sua regulamentação jurídica formal. Significam que os cidadãos são sujeitos de direitos e que, onde tais direitos não existam nem estejam garantidos, tem-se o direito de lutar por eles e exigi-los. É esse o cerne da democracia: a criação de direitos. O que é um direito? Um direito difere de uma necessidade ou carência e de um interesse. De fato, uma necessidade ou carência é algo particular e específico. Alguém pode ter necessidade de água, outro, de comida. Um grupo social pode ter carência de transportes, outro, de hospitais. Há tantas necessidades quanto indivíduos, tantas carências quanto grupos sociais. Um interesse também é algo particular e específico, dependendo do grupo ou da classe social. Necessidades ou carências, assim como interesses tendem a ser conflitantes porque exprimem as especificidades de diferentes grupos e classes sociais. Um direito, porém, ao contrário de necessidades, carências e interesses, não é particular e específico, mas geral e universal, válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais. E, evidentemente, um direito se opõe a um privilégio. Justamente porque opera com o conflito e com a criação de direitos, a democracia não se confinar a um setor específico da sociedade no qual a política se realizaria – o Estado --, mas determina a forma das relações sociais e de todas as instituições, ou seja, é o único regime político que é também a forma social da existência coletiva. Ela institui a sociedade democrática. Em traços gerais, a sociedade democrática possui as seguintes características: 1. forma sócio-política definida pelo princípio da isonomia (igualdade dos cidadãos perante a lei) e da isegoria (direito de todos para expor em público suas opiniões, vê-las discutidas, aceitas ou recusadas em público), tendo como base a afirmação de que todos são iguais porque livres, isto é, ninguém está sob o poder de um outro porque todos obedecem às mesmas leis das quais todos são autores (autores diretamente, numa democracia participativa; indiretamente, numa democracia representativa). Donde o maior problema da democracia numa sociedade de classes ser o da manutenção de seus princípios - igualdade e liberdade - sob os efeitos da desigualdade real; 2. forma sócio-política na qual, ao contrário de todas as outras, o conflito é considerado legítimo e necessário, buscando mediações institucionais para que possa exprimir-se. A democracia não é o regime do consenso, mas do trabalho dos e sobre os conflitos. Donde uma outra dificuldade democrática nas sociedades de classes: como operar com os conflitos quando estes possuem a forma da contradição e não a da mera oposição? 3. forma sócio-política que busca enfrentar as dificuldades acima apontadas conciliando o princípio da igualdade e da liberdade e a existência real das desigualdades, bem como o princípio da legitimidade do conflito e a existência de contradições materiais introduzindo, para isso, a idéia dos direitos (econômicos, sociais, políticos e culturais). Graças aos direitos, os desiguais conquistam a igualdade, entrando no espaço político para reivindicar a participação nos direitos existentes e sobretudo para criar novos direitos. Estes são novos não simplesmente porque não existiam anteriormente, mas porque são diferentes daqueles que existem, uma vez que fazem surgir, como cidadãos, novos sujeitos políticos que os afirmaram e os fizeram ser reconhecidos por toda a sociedade. 4. graças à idéia e à prática da criação de direitos, a democracia não define a liberdade apenas pela ausência de obstáculos externos, mas a define pela autonomia, isto é, pela capacidade dos sujeitos sociais e políticos darem a si mesmos suas próprias normas e regras de ação. Passa-se, portanto, de uma definição negativa da liberdade – o não obstáculo ou o não-constrangimento externo – à uma definição positiva – dar a si mesmo suas regras e normas de ação. Assim a idéia de liberdade leva a tomar a democracia como democracia participativa, isto é, encontrar procedimentos pelos quais os cidadãos obriguem os representantes a realizar as decisões para as quais foram eleitos; 5. pela criação dos direitos, a democracia surge como o único regime político realmente aberto às mudanças temporais, uma vez que faz surgir o novo como parte de sua existência e, conseqüentemente, a temporalidade como constitutiva de seu modo de ser, de maneira que a democracia é a sociedade verdadeiramente histórica, isto é, aberta ao tempo, ao possível, às transformações e ao novo. Com efeito, pela criação de novos direitos e pela existência dos contra-poderes sociais, a sociedade democrática não está fixada numa forma para sempre determinada, ou seja, não cessa de trabalhar suas divisões e diferenças internas, de orientar-se pela possibilidade objetiva (a liberdade) e de alterar-se pela própria práxis; 6. única forma sócio-política na qual o caráter popular do poder e das lutas tende a evidenciar-se nas sociedades de classes, na medida em que os direitos só ampliam seu alcance ou só surgem como novos pela ação das classes populares contra a cristalização jurídico-política que favorece a classe dominante. Em outras palavras, a marca da democracia moderna, permitindo sua passagem de democracia liberal á democracia social, encontra-se no fato de que somente as classes populares e os excluídos (as "minorias") sentem a exigência de reivindicar direitos e criar novos direitos; 7. forma política na qual a distinção entre o poder e o governante é garantida não só pela presença de leis e pela divisão de várias esferas de autoridade, mas também pela existência das eleições, pois estas (contrariamente do que afirma a ciência política) não significam mera "alternância no poder", mas assinalam que o poder está sempre vazio, que seu detentor é a sociedade e que o governante apenas o ocupa por haver recebido um mandato temporário para isto. Em outras palavras, os sujeitos políticos não são simples votantes, mas eleitores. Eleger significa não só exercer o poder, mas manifestar a origem do poder, repondo o princípio afirmado pelos romanos quando inventaram a política: eleger é "dar a alguém aquilo que se possui, porque ninguém pode dar o que não tem", isto é, eleger é afirmar-se soberano para escolher ocupantes temporários do governo. A dimensão criadora da democracia, ou seja, a ação cujos protagonistas são as classes sociais, torna-se visível quando consideramos os três grandes direitos que definiram a democracia desde sua origem, isto é, a igualdade, a liberdade e a participação nas decisões. Em outras palavras, a abertura do campo dos direitos, que define a democracia, explica porque as lutas populares por igualdade e liberdade puderam ampliar os direitos políticos (ou civis) e, a partir destes, criar os direitos sociais — trabalho, moradia, saúde, transporte, educação, lazer, cultura —, os direitos das chamadas “minorias” — mulheres, idosos, negros, homossexuais, crianças, índios —; o direito à segurança planetária — as lutas ecológicas e contra as armas nucleares; e, hoje, o direito contra as manipulações da engenharia genética. Por seu turno, as lutas populares por participação política ampliaram os direitos civis: direito de opor-se à tirania, à censura, à tortura, direito de fiscalizar o Estado por meio de instituições sociais (associações, sindicatos, movimentos sociais e populares); direito à informação pela publicidade das decisões estatais. Se é isso uma sociedade democrática, podemos dizer que, no Brasil, estamos longe dela. Mais do que isso. Nossa sociedade está estruturada de tal maneira que ela própria constitui o principal obstáculo à democracia. Podemos, simplificadamente, considerar que a sociedade brasileira se caracteriza pelos seguintes aspectos: - estruturada, desde o período colonial, por relações de mando e obediência, nela se impõe tanto a recusa tácita (e às vezes explícita) de operar com o mero princípio liberal da igualdade jurídica quanto a dificuldade para lutar contra formas de opressão social e econômica: as diferenças são postas como desigualdades e, estas, como inferioridade natural (no caso das mulheres, dos trabalhadores, dos negros, índios, migrantes, idosos) ou como monstruosidade (no caso dos homossexuais). Para os grandes, a lei é privilégio; para as camadas populares, repressão. A lei não figura o polo público do poder e da regulação dos conflitos, nunca definindo direitos e deveres dos cidadãos porque a tarefa da lei é a conservação de privilégios e o exercício da repressão. Por este motivo, as leis aparecem como inócuas, inúteis ou incompreensíveis, feitas para serem transgredidas e não para serem transformadas – o famoso “jeitinho brasileiro”. O poder judiciário é claramente percebido como distante, secreto, representante dos privilégios das oligarquias e não dos direitos da generalidade social; - o núcleo da sociabilidade é dado pela família e não por outras formas de sociabilidade associativa, fazendo com que o espaço privado predomine sobre o espaço público – ou seja, há dificuldade para que os indivíduos se percebam e se reconheçam como cidadãos. A indistinção entre o público e o privado não é uma falha ou um atraso, mas é, antes, a forma mesma de realização da sociedade e da política: não apenas os governantes e parlamentares praticam a corrupção sobre os fundos públicos, mas não há a percepção social de uma esfera pública das opiniões, da sociabilidade coletiva, da rua como espaço comum, assim como não há a percepção dos direitos sociais como direitos do cidadão, pois tais direitos são percebidos como uma dádiva paternal do Estado aos seus filhos. - nossa sociedade determina uma forma peculiar de evitar o trabalho dos conflitos e contradições sociais, econômicas e políticas enquanto tais, uma vez que conflitos e contradições negam a imagem mítica da boa sociedade indivisa, pacífica e ordeira. Os conflitos não são ignorados e sim recebem uma significação precisa: são considerados sinônimo de perigo, crise, desordem e a eles se oferece uma única resposta: a repressão policial e militar, para as camadas populares, e o desprezo condescendente, para os opositores em geral. Em suma, a sociedade auto-organizada em associações, sindicatos, movimentos sociais, movimentos populares, etc., é vista como perigosa para o Estado e para o funcionamento “racional” do mercado. - nossa sociedade determina uma forma peculiar de bloquear a esfera pública da opinião como expressão dos interesses e dos direitos de grupos e classes sociais diferenciados e\ou antagônicos. Esse bloqueio não é um vazio ou uma ausência, mas um conjunto de ações determinadas que se traduzem numa maneira determinada de lidar com a esfera da opinião: os meios de comunicação monopolizam a informação, e o consenso é confundido com a unanimidade, de sorte que a discordância é posta como ignorância, atraso ou ignorância. - nossa sociedade opera a naturalização das desigualdades econômicas e sociais, do mesmo modo que naturaliza as diferenças étnicas (postas como desigualdades raciais entre superiores e inferiores), as diferenças religiosas e de gênero, bem como naturaliza todas formas visíveis e invisíveis de violência. Ou seja, as desigualdades não são percebidas como produzidas pela própria sociedade e sim como fatos da natureza que é preciso aceitar e contra os quais nada há a fazer. - do ponto de vista simbólico, prevalece o fascínio pelos signos de prestígio e de poder: uso de títulos honoríficos sem qualquer relação com a possível pertinência de sua atribuição, o caso mais corrente sendo o uso de "Doutor" quando, na relação social, o outro se sente ou é visto como superior ("doutor" é o substituto imaginário para os antigos títulos de nobreza); manutenção de criadagem doméstica, cujo número indica aumento de prestígio e de status; a distinção imobiliária entre regiões urbanas “nobres” e “não nobres” e entre residências com ou sem “suites”; etc.. E, evidentemente, o famoso “sabe com quem está falando?”, que estabelece imediatamente uma relação de desigualdade e superioridade. - a desigualdade salarial entre homens e mulheres, entre brancos e negros, a exploração do trabalho infantil e dos idosos são consideradas normais. A existência dos sem-terra, dos sem-teto, dos desempregados é atribuída à ignorância, à preguiça e à incompetência dos "miseráveis". A existência de crianças de rua é vista como "tendência natural dos pobres à criminalidade". Os acidentes de trabalho são imputados à incompetência e ignorância dos trabalhadores. As mulheres que trabalham (se não forem professoras, enfermeiras ou assistentes sociais) são consideradas prostitutas em potencial e as prostitutas, degeneradas, perversas e criminosas, embora, infelizmente, indispensáveis para conservar a santidade da família. - a inacreditável concentração da renda é considerada natural e não como socialmente inaceitável. Em outras palavras, a sociedade brasileira é violenta ou autoritária porque oligárquica e está polarizada entre a carência absoluta das camadas populares e o privilégio absoluto das camadas dominantes e dirigentes. - finalmente, não custa lembrar o autoritarismo dos intelectuais, nascido desde tempos coloniais, isto é, oriundo da tradição ibérica, hierárquica e autoritária, na qual os letrados se distribuíam em três campos: na formulação do poder, como teólogos e juristas; no exercício do poder, como membros da vasta burocracia estatal e da hierarquia universitária; e no usufruto dos favores do poder, como bacharéis e escritores de prestígio. No Brasil, essa tradição combinou-se com a percepção da cultura como ornamento e signo de superioridade, reforçando o mandonismo e o autoritarismo, e como instrumento de ascensão social, reforçando desigualdades e exclusões. Com a implantação da indústria de modelo fordista e taylorista ou da “gerência científica”, com o crescimento da urbanização, o surgimento das universidades e das investigações científicas, e com a implantação da indústria cultural ou da cultura de massa pelos meios de comunicação e pela publicidade, a figura tradicional do letrado recebeu um acréscimo, qual seja, a do especialista, portador do discurso competente, segundo o qual aqueles que possuem determinados conhecimentos têm o direito natural de mandar e comandar os demais em todas as esferas da vida social, de sorte que a divisão social das classes é sobre-determinada pela divisão entre os especialistas competentes, que mandam, e os demais, incompetentes, que executam ordens ou aceitam os efeitos das ações dos especialistas. O autoritarismo social e as desigualdades econômicas fazem com que a sociedade brasileira esteja polarizada entre as carências das camadas populares e os privilégios das classes abastadas e dominantes, sem conseguir ultrapassar carências e privilégios e alcançar a esfera dos direitos. Como vimos há pouco, uma carência é sempre específica, sem conseguir generalizar-se num interesse comum nem universalizar-se num direito. Um privilégio, por definição, é sempre particular, não podendo generalizar-se num interesse comum nem universalizar-se num direito, pois, se tal ocorresse, deixaria de ser privilégio. Ora, a democracia é criação e garantia de direitos. Compreende-se, portanto, a impossibilidade de realizar a política democrática baseada nas idéias de cidadania e representação - esta é substituída pelo favor, pela clientela, pela tutela, pela cooptação ou pelo pedagogismo vanguardista. Os partidos políticos são clubs privés das oligarquias regionais, mantendo com os eleitores quatro tipos principais de relações: a de cooptação, a de favor e clientela, a de tutela e a da promessa salvacionista ou messiânica. Do lado da classe dominante, a política é praticada numa perspectiva teocrática, isto é, os dirigentes são detentores do poder por escolha divina, enquanto do lado das camadas populares, o imaginário político é messiânico, espelhando a auto-imagem dos dirigentes – ou seja, tanto do lado dos dominantes como do lado popular, a política é vivenciada a partir de imagens religiosas. Como consequência, a política não consegue configurar-se como campo social de lutas, mas tende a passar para o plano da representação teológica, oscilando entre a sacralização e adoração do bom-governante e a satanização e execração do mau-governante. Se a política democrática corresponde a uma sociedade democrática e se no Brasil a sociedade hierárquica, vertical, oligárquica está polarizada entre a carência e o privilégio, só será possível uma política democrática que enfrente a estrutura social. A idéia de inclusão social não é suficiente para derrubar essa polarização. Esta só pode ser enfrentada se o privilégio for enfrentado e este só será enfrentado por meio de quatro grandes ações políticas: a reforma tributária, que opere sobre a vergonhosa concentração da renda e faça o Estado passar da política de transferência de renda para a da distribuição e redistribuição da renda; a reforma política, que dê uma dimensão republicana às instituições públicas; a reforma social, que consolide o Estado do Bem-Estar Social como política do Estado e não apenas como programa de governo; e uma política de cidadania cultural capaz de desmontar o imaginário autoritário, quebrando o monopólio da classe dominante sobre a esfera dos bens simbólicos. Estudos, pesquisas e análises mostram que houve uma mudança profunda na composição da sociedade brasileira, graças aos programas governamentais de inclusão social e erradicação da pobreza e à política econômica. De um modo geral, empregando a classificação dos institutos de pesquisa de mercado e da sociologia, costuma-se organizar a sociedade numa pirâmide seccionada em classes designadas como A,B,C, D e E. Por esse critério, chegou-se à conclusão de que, entre 2003 e 2011, as classes D e E diminuíram consideravelmente, passando de 96,2 milhões de pessoas para 63,5%; também no topo da pirâmide, houve crescimento das classes A e B, que passaram de 13,3 milhões para 22,5 milhões; mas a expansão verdadeiramente espetacular ocorrer com a classe C, que passou de 65,8 milhões para 105,4 milhões. Essa expansão tem levado à afirmação de que cresceu a classe média brasileira, ou melhor, surgiu uma nova classe média no país. A distribuição das classes pela sociologia e pelos institutos de pesquisa de mercado se faz com base na renda, na propriedade de bens imóveis e móveis, na escolaridade e na ocupação ou profissão. Penso, entretanto, que há uma outra maneira de analisar a divisão social das classes, maneira que se originou com o marxismo. Sob esta perspectiva, o critério da divisão das classes é a forma da propriedade. A classe dominante é proprietária privada dos meios sociais de produção (capital produtivo e capital financeiro); a classe trabalhadora, excluída desses meios de produção, é proprietária da força de trabalho, vendida sob a forma de salário; a classe média se define negativamente, isto é, não é proprietária privada dos meios sociais de produção nem vende sua força de trabalho para o capital produtivo e o capital financeiro. Numa palavra, a classe média encontra-se fora do núcleo central do capitalismo: ela não é detentora do capital e dos meios sociais de produção e não é a força de trabalho que produz capital. Ela se situa no setor de serviços. Se essas descrições da composição social capitalista for válida, penso que podemos fazer três observações: 1) pela perspectiva sociológica tradicional, a classe média brasileira é um enigma, pois por sua escolaridade, deveria ser uma classe bem informada, capaz de pensamento e reflexão. No entanto, o que se observa é exatamente o contrário e isso exige que procuremos uma outra perspectiva para entender política e ideologicamente essa classe social; 2) no Brasil, entre 2003 e 2011, o crescimento maior foi o da classe trabalhadora, seguido do crescimento da classe média. Essa afirmação se reforça ainda com um outro dado. De fato, na fase atual do capitalismo ou no chamado capitalismo pós-industrial, houve um importante deslocamento do lugar da ciência e da técnica. De fato, no capitalismo industrial, as ciências, ainda que algumas delas fossem financiadas pelo capital, se realizavam, em sua maioria, em pesquisas autônomas cujos resultados poderiam levar a tecnologias aplicadas pelo capital à produção. Essa situação significava que cientistas, técnicos e intelectuais pertenciam à classe média. Hoje, porém, com a revolução eletrônica e a informática, as ciências e as técnicas tornaram-se parte essencial das forças produtivas e por isso cientistas, técnicos e intelectuais passaram da classe média à classe trabalhadora. Dessa maneira, renda, propriedades e escolaridade não são critérios para distinguir entre os membros da classe trabalhadora e os da classe média. 3) a classe média tende a ser um problema político sério porque, estando fora do núcleo econômico definidor do capitalismo, encontra-se também fora do núcleo do poder político: ela não detém o poder do Estado nem o poder social da classe trabalhadora organizada. Isso a coloca numa posição que a define por seu lugar ideológico e este tende a ser contraditório. Por sua posição no sistema social, a classe média tende a ser fragmentada, raramente encontrando um interesse comum que a unifique. Todavia, certos setores, como é o caso, por exemplo, dos estudantes, dos funcionários públicos, dos intelectuais, de lideranças religiosas tendem a ser organizar e a se opor à classe dominante em nome da justiça social, colocando-se na defesa dos interesses e direitos dos excluídos, dos espoliados, dos oprimidos; numa palavra, tendem para a esquerda e, via de regra, para a extrema esquerda e o voluntarismo. No entanto, essa configuração é contrabalançada por uma outra, exatamente oposta. Fragmentada, perpassada pelo individualismo competitivo, desprovida de um referencial social e econômico sólido e claro, a classe média tende a alimentar o imaginário da ordem e da segurança porque, em decorrência de sua fragmentação e de sua instabilidade, o imaginário da classe média é povoado por um sonho e por um pesadelo: seu sonho é tornar-se parte da classe dominante; seu pesadelo é tornar-se proletária; para que o sonho se realize e o pesadelo não se concretize, é preciso ordem e segurança. Isso torna a classe média ideologicamente conservadora e reacionária e seu papel social e político é o de assegurar a hegemonia ideológica da classe dominante, fazendo com que essa ideologia, por intermédio da escola, da religião, dos meios de comunicação, se naturalize e se espalhe pelo todo da sociedade. É sob esta perspectiva que se pode dizer que a classe média é a formadora da opinião social e política conservadora e reacionária. Do ponto de vista simbólico, a classe média substitui a falta de poder econômico e de poder político, que a definem, seja pela guinada ao voluntarismo de esquerda, seja pela busca do prestígio e dos signos de prestígio, como por exemplo, os diplomas e os títulos vindos das profissões liberais, e pelo consumo de serviços e objetos indicadores de prestígio, autoridade, riqueza, abundância, ascensão social – a casa no “bairro nobre” com 4 suites, o carro importado, a roupa de marca, etc.. [o episódio com o dono do Mercedes]. Dessa maneira, no caso brasileiro, ela é uma barreira que se ergue contra a democracia e assegura a manutenção do autoritarismo social tanto por meio dos preconceitos de classe [o caso do metrô em São Paulo] quanto por meio dos preconceitos étnicos, religiosos, sexuais e de gênero. Como desatar esse nó?
MODIFICADO DE: http://interpretacoesdeumsujeito.blogspot.com/2011/10/classe-media-como-desatar-esse-no.html

PREGUIÇA




                              FONTE: http://www.gatastrofes.com.br/2011/12/preguica-isso-e- contagiante.html

sábado, 5 de maio de 2012

Lula, Silvio Santos e Ronaldo são as personalidades mais admiradas pelos brasileiros


Que pessoas e quais valores, no mundo atual, são capazes de inspirar as pessoas a ponto de realmente transformá-las e de levá-las a evoluir? Que figuras, personalidades, são as mais admiradas e em quais as pessoas mais se inspiram? E até que ponto a inspiração captada nas mais admiradas é capaz de transformar a vida das pessoas incentivando a sua evolução? Inspiração para a mudança não é um achado fácil. Nessa época em que a virada do ano se aproxima, todos se perguntam quais as prioridades para o Ano-Novo: o que gostariam de mudar e como mudar? Estudo qualitativo e quantitativo Quem me inspira? – realizado pela Giacometti Comunicação e coordenado por Dennis Giacometti – revela onde os brasileiros buscam inspiração no dia a dia de suas vidas, para evoluir, mudar, aprender e para se tornar um ser humano melhor. Para 46% dos entrevistados, a pessoa que mais inspira não é uma personalidade famosa, como se poderia supor: é a mãe. Entre os famosos mais admirados estão: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (19%); Silvio Santos (10%); Ivete Sangalo e Ronaldo Fenômeno (6% cada um). Entre os ídolos mais citados estão Jesus Cristo (10%); Lula (7%); Chico Xavier e Ronaldo Fenômeno (5% cada um). Entre as empresas, os entrevistados apontaram aquelas que mais contribuem para um mundo melhor – Natura (25%); Ypê (15%); e Petrobras (14%).
MODIFICADO DE:   http://www.intervozes.org.br/destaque-1

Os biocombustíveis e a cana do Brasil


Jean Ziegler é um sociólogo suíço, professor nas universidade de Genebra e La Sorbonne de Paris. Acaba de publicar um livro, Destruction massive: Géopolitique de la faim que trata do problema dos biocombustíveis, uma área em plena expansão. Um biocombustível não é apenas um carburante mais "amigo" do ambiente: é, antes disso, o uso das terras agrícolas e das culturas para produzir combustível para veículos de transporte em vez de alimentos para seres humanos, um factor-chave na escalada dramática dos preços dos alimentos em todo o mundo. No seu livro, Ziegler mostra como a indústria dos biocombustíveis ameaçam aumentar a fome no mundo até níveis nunca atingidos antes. É isso não é um acaso, um acidente: é o resultado de políticas deliberadas implementadas pelos governos relacionados com as poderosas empresas do agro-negócio na procura do lucro privado. Desta forma, o dramático aumento dos níveis da fome no mundo pode ser descrito como uma forma de "homicídio assassinato calculado". Ironicamente, a indústria dos biocombustíveis é promovida por empresas e governos como uma alternativa sustentável aos combustíveis fósseis e "ambientalmente seguros". Na verdade, é apenas outra forma de exploração excessiva de recursos naturais, tendo como objectivo o lucro. A indústria dos biocombustíveis resulta duma combinação de multinacionais do agronegócio e do petróleo, as quais conhecem as consequências da operação em termos humanos e ambientais. Nos últimos cinco anos, o mundo testemunhou uma subida preços dos alimentos que está a colocar milhões de pessoas em risco de fome, tudo porque simplesmente não têm dinheiro para comprar comida. Esta é uma acusação chocante para um sistema económico que coloca o imperativo do lucro privado acima da sobrevivência dos seres humanos. Principal entre os factores que causam essa inflação dos preços é o rápido crescimento da indústria mundial dos biocombustíveis. Mas como é possível promover uma tal indústria sem que haja no público uma qualquer reacção? Simples: o público desconhece as práticas políticas e económicas, nada percebe de agronegócio, só sabe que o biocombustível é "verde". E se for "verde", significa que é bom. Mas tão bom não é e três factores implícitos na produção dos biocombustíveis contribuem para a crescente escassez dos alimentos e o aumento dos relativos preços: A desapropriação das terras para a introdução da cana-de-açúcar e outras plantas, especialmente nos Estados Unidos, para a produção de biocombustíveis (etanol), priva os pequenos proprietários das suas terras e reduz a quantidade de comida para todos: a perda de terras aráveis tem contribuído para o aumento dos preços dos alimentos. Menos terra, menos alimentos = preços mais altos. Especulação acerca da terra arável e dos alimentos é também um factor importante no aumento acentuado dos preços dos alimentos básicos: não apenas os pequenos agricultores são privados das suas terras, mas muitas vezes, sem uma adequada compensação, não podem mesmo ter recursos para comprar comida suficiente para sobreviver ou reiniciar uma actividade agrícola. A terceira causa é a desertificação e a degradação da terra e do solo, que é acelerada pela substituição cada vez maior de fazendas orgânicas com enormes monoculturas para biocombustíveis, muitas vezes feitas com o uso de organismos geneticamente modificados que requerem grandes quantidades de água. Rios e lagos estão secos, e um número crescente de pessoas em todo o mundo não têm acesso à água potável. A mentira O "ouro verde" há vários anos é considerado como um complemento do lucrativo "ouro negro". Os monopólios da produção de alimentos que dominam o comércio dos biocombustíveis, em apoio aos novos produtos, apresentam um tema que pode parecer indiscutível: a substituição dos combustíveis fósseis com energia obtida a partir de culturas seria a mais recente arma na luta contra a rápida deterioração do clima e aos danos irreversíveis que estes provocam ao meio ambiente e aos seres humanos. Alguns dados: mais de 100 biliões de litros de bioetanol e biodiesel foram produzido em 2011. No mesmo ano, 100 milhões de hectares de culturas agrícolas foram usados ​​para produzir biocombustíveis. A produção mundial de biocombustíveis dobrou nos últimos cinco anos, de 2006 a 2011. A degradação do clima é uma realidade. Globalmente, a desertificação e a degradação dos solos afecta agora mais de 1 bilião de pessoas em mais de 100 Países. As zonas áridas representam mais de 44% das terras aráveis ​​do planeta. A destruição de ecossistemas e de vastas áreas agrícolas do mundo, especialmente na África, é uma tragédia para os pequenos agricultores e criadores. Na África, as Nações Unidas estima que existam 25 milhões de "refugiados ambientais" ou "migrantes ambientais", isso é, seres humanos que têm sido forçados a deixar as suas casas devido a desastres naturais (inundações, secas, desertificação) e que, no final, lutam para sobreviver nas favelas das grandes cidades. A degradação da terra alimenta o conflito, especialmente entre os fazendeiros e agricultores. As empresas que produzem biocombustíveis têm convencido a maioria da opinião pública mundial, e basicamente todos os Países ocidentais, que a energia produzida a partir das plantas é a arma milagrosa contra a deterioração do clima. Mas este argumento é uma mentira: ignora os métodos de produção e os custos ambientais, que exigem muita água e muita energia. Em todo o planeta, a água potável está a tornar-se um bem cada vez mais escasso: uma em cada três pessoas é forçada a beber água poluída. Cerca de 9.000 crianças com menos de dez anos morrem a cada dia devido ao facto de que a água que bebem não é adequada para o consumo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, um terço da população mundial ainda não tem acesso à água potável a um preço acessível e metade da população mundial não tem acesso à água limpa e potável. Só na África sub-saariana, aproximadamente 285 milhões de pessoas não têm acesso regular à água potável; 248 milhões de pessoas na Ásia estão na mesma situação, 398 milhões na Ásia oriental, 180 milhões na Ásia meridional e no Pacífico, 92 milhões na América do Sul e nas Caraíbas, 67 milhões nos Países Árabes. E, claro, são os Países mais pobres que sofrem mais severamente pela falta de água. Do ponto de vista hídrico, a produção de dezenas de biliões de galões de biocombustíveis a cada ano é um verdadeiro desastre: são precisos cerca de 4.000 litros de água para produzir 1 litro de bioetanol. A obsessão com Barack Obama Os produtores de biocombustíveis, algumas entre as mais poderosas corporações do mundo, têm sede nos Estados Unidos. Recebem anualmente biliões de Dólares sob-forma de ajuda governamental. De acordo com o presidente Barack Obama, no seu Discurso sobre o estado da União em 2011, para os Estados Unidos o programa do bioetanol e biodiesel é uma "questão nacional", uma questão de segurança nacional. Em 2011, subsidiados por 6 biliões de Dólares de fundos públicos, os EUA queimaram 38,3% da safra nacional de trigo, em comparação com 30,7% em 2008. E desde 2008, o preço do trigo no mercado mundial aumentou 48%. Os Estados Unidos, apesar da crise, continuam sendo a primeira potência económica: apesar dum número relativamente baixo de habitantes (300 milhões, comparado com 1,3 biliões da China e da Índia) os EUA produzem pouco mais de 25% de todos os bens industriais produzidos num ano no planeta. A matéria-prima dessa máquina incrível é o petróleo. Os Estados Unidos queimam uma média diária de 20 milhões de barris, cerca de um quarto da produção mundial. 61% desse total, pouco mais de 12 milhões de barris por dia, é importado. Para o Presidente dos Estados Unidos, esta dependência é uma óbvia preocupação. E mais preocupante é o facto de que a maior parte deste petróleo importado vem de regiões onde é endémica a instabilidade política e/ou onde os Americanos não são bem vistos. Em suma, onde a produção e a exportação para os Estados Unidos não são garantidos . George W. Bush foi o iniciador do programa de biocombustíveis. Em Janeiro de 2007 estabeleceu uma meta para ser atingida: ao longo dos sucessivos dez anos, os EUA teriam de reduzir 20% do consumo de combustíveis fósseis e multiplicar por sete a produção de biocombustíveis. Queimar milhões de toneladas de alimentos num planeta onde a cada cinco segundos uma criança com menos de dez anos morre de fome, é obviamente ultrajante, mas na óptica americana é normal que para encher um depósito e automóvel (capacidade média de pouco menos de 50 litros) seja preciso destruir 358 kg de milho No México e no Zâmbia o milho é o alimento básico. Com 358 kg de trigo, uma criança teria comida suficiente por um ano. Brasil: a maldição da cana Não apenas os biocombustíveis desperdiçam anualmente centenas de milhões de toneladas de milho, trigo e outros alimentos, e não apenas liberam ao longo da produção milhões de toneladas de dióxido de carbono que fica na atmosfera: além disso, causam desastres sociais em Países onde as empresas que produzem biocombustíveis se tornam dominante. O exemplo do Brasil. A luta dos trabalhadores nell'engenho Trapiche é um exemplo apropriado. As vastas terras que pouco visíveis na névoa da tarde eram propriedade estatal: eram, até há poucos anos, lotes de 1-2 hectares, cultivados por pequenos agricultores de subsistência. As famílias viviam na pobreza, mas estavam seguras pois podiam gozar de relativa prosperidade e liberdade. Através de influentes relações com o governo federal de Brasília, foi obtido o "desmantelamento", ou seja, a privatização dessas terras. Os pequenos produtores de grãos e cereais que viviam aqui foram transferidos para as favelas de Recife. A poucas excepções são aqueles agricultores que aceitaram de tornar-se cortadores de cana de açúcar; e hoje aqueles trabalhadores são explorados. No Brasil, o programa de produção de biocombustíveis é considerado uma prioridade. E a cana-de-açúcar é um dos bens mais rentáveis ​​para a produção de bioetanol. O programa brasileiro para um rápido aumento da produção de bioetanol tem um nome curioso: o plano Pro-álcool. Em 2009, o Brasil consumiu 14.000 milhões de litros de bioetanol (e biodiesel) e exportou 4.000 milhões de litros. O objectivo do governo é exportar mais de 200.000 milhões de litros.O governo do Brasil quer aumentar para 26 milhões de hectares o cultivo da cana-de-açúcar. Na luta contra os gigantes do bioetanol, os cortadores da plantação Trapiche não têm chance. O plano para a implementação do Pro-álcool brasileiro levou à rápida concentração das terras nas mãos de poucas corporações de "barões" indígenas e das multinacionais. Esta monopolização aumenta a desigualdade e agrava a pobreza rural (bem como a pobreza urbana, como resultado da migração desde áreas rurais). Além disso, a exclusão dos pequenos agricultores ameaça a segurança alimentar do País, já que eles são os únicos que podem garantir o sustento da agricultura. As famílias rurais chefiadas por mulheres têm menos acesso à terra e sofrem maior discriminação. Em definitiva o desenvolvimento da produção de "ouro verde" no modelo agro-exportador muito enriquece os barões do açúcar, mas muito empobrece os agricultores: na verdade, foi assinada a sentença de morte para a agricultura familiar de pequeno e médio porte e, portanto, para a soberania alimentar do País. Mas, para além dos barões do açúcar brasileiro, o programa Pro-Álcool gera lucros para empresas transnacionais como a Louis Dreyfus, Bunge, Noble Group, Archer Daniels Midland e para grupos financeiros de propriedade de Bill Gates e George Soros, mas também para os fundos soberanos da China (os fundos soberanos dão fundos de investimentos de propriedade do Estado, constituído por obrigações, imóveis, metais preciosos e outros instrumentos financeiros ainda). Num País como o Brasil, onde milhões de pessoas estão a exigir o direito de possuir um pedaço de terra, onde a segurança alimentar está ameaçada, a apropriação de terras por parte de empresas multinacionais e fundos soberanos é um escândalo. Para obter pastagens novas, os grandes proprietários e gestores de algumas empresas transcontinentais queimam as florestas do Brasil. Dezenas de milhares de hectares a cada ano. A destruição é definitiva. Os solos da Amazónia e do Mato Grosso, cobertos por florestas primárias, têm apenas uma fina camada de húmus. Mesmo no caso pouco provável em que os líderes do Brasil desejem travar a destruição, não seria possível recriar a floresta amazónica, "o pulmão do planeta". As previsões apontam para 40% da floresta amazónica desaparecida até 2050. Desde que o Brasil tem gradualmente substituído as culturas alimentares com a cana-de-açúcar, entrou no círculo vicioso do mercado internacional de alimentos: forçado a importar alimentos que não produz, isso aumenta a procura global, o que por sua vez provoca um aumento dos preços. A insegurança alimentar, da qual uma grande parte da população brasileira é vítimas, está directamente relacionada ao Pro-álcool. Isso é evidente em particular nas áreas onde a cana é cultivada, pois os alimentos básicos, composto quase exclusivamente por produtos importados, estão sujeitos a flutuações significativas de preços. Muitos pequenos agricultores são compradores líquidos de alimentos porque não têm terra suficiente para produzir alimentos suficientes para as suas famílias. Assim, em 2008, os agricultores não foram capazes de comprar comida suficiente por causa da súbita explosão dos preços. Além disso, a fim de reduzir custos, os produtores de biocombustíveis exploram milhões de trabalhadores, de acordo com o modelo ultra-liberal da agricultura capitalista. Não apenas recebem salários de miséria, como também têm horários de trabalho desumanos, têm infra-estruturas mínimas e as condições de trabalho estão no limite da escravidão.
VIA:  http://informacaoincorrecta.blogspot.com/2012/01/os-biocombustiveis-e-cana-do-brasil.html

terça-feira, 1 de maio de 2012

“Guerra” Cibernética em Ação? Examinando o Vírus de Computador que Contaminou o Sistema de Infra-Estrutura Petrolífera do Irã, por Bernardo Wahl G. de Araújo Jorge


Agências internacionais de notícias, com base em informes das agências iranianas Mehr, ISNA, Shana e Fars, noticiaram que os sistemas do Ministério Iraniano do Petróleo e da Companhia Nacional Iraniana de Petróleo, assim como de parte da infra-estrutura petrolífera do país, foram alvo de ataque de um vírus de computador em 22 de abril de 2012 (domingo), sendo atingido inclusive o terminal de petróleo localizado na ilha Kharg, situada no Golfo Pérsico, por onde passa cerca de 80 a 90% do petróleo cru exportado pelo Irã. O vírus “wiper” (“limpador”, em uma tradução livre para o português), que também foi descrito como um “verme” (worm) ou “malware” (sigla de malicious software – programa malicioso), aparentemente apagou informações de discos rígidos de alguns servidores (isto é, computadores adaptados para funcionarem como centrais de comunicação) do Ministério do Petróleo do Irã e da Companhia Nacional Iraniana de Petróleo. Os sítios web dos mesmos também saíram do ar, embora não esteja claro se isso foi decorrente da ação do vírus “wiper” ou de uma resposta de emergência conduzida por uma equipe iraniana que, por segurança, acabou desconectando da internet diversos sistemas. Embora o ataque não tenha prejudicado as exportações de petróleo, causou algum dano em uma infra-estrutura crítica iraniana – no caso, a petrolífera. O termo “infra-estrutura crítica” é usado por governos para descrever ativos que são fundamentais para o funcionamento de uma sociedade e de uma economia, sendo exemplos (1) a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica; (2) a produção, o transporte e a distribuição de petróleo e de gás; (3) as telecomunicações; (4) o abastecimento d’água; (5) o sistema de saúde – incluindo hospitais e ambulâncias; (6) o sistema de transportes (ônibus, metrô, trem, aeroportos etc); (7) o sistema financeiro, entre outros. É importante destacar que não é a primeira vez que o Irã é alvo de ataques cibernéticos. Em junho/julho de 2010 (embora já estivesse em ação cerca de um ano antes, ou até mais) foi descoberto o vírus/verme Stuxnet, malware composto de código de programação extenso e complexo, com diferentes componentes e funcionalidades, cujo objetivo é reprogramar sistemas de controle industrial (os quais são geralmente usados em gasodutos e redes de energia), mais especificamente sistemas SCADA (sigla em inglês para algo como “controle de supervisão e aquisição de dados”) da companhia alemã Siemens. A maioria das infecções oriundas do Stuxnet foi encontrada no Irã, o que indica que o país foi o alvo inicial da infecção, embora o vírus tenha se espalhado além do alvo original, o que pode ser visto como um certo “efeito colateral” (FALLIERE et al., 2011). Segundo diversas fontes da imprensa, disponíveis abertamente na internet (por exemplo: GROSS, 2011), o Stuxnet exigiu o mais amplo e caro processo de desenvolvimento na história dos malwares. A complexidade de seu código de programação indica que apenas um Estado-nação teria a capacidade para construí-lo. O Stuxnet é considerado a arma cibernética mais sofisticada já empregada. Mas o Stuxnet não foi o único. Em setembro de 2011, o Laboratório de Criptografia e Segurança de Sistemas da Universidade de Tecnologia e Economia de Budapeste, na Hungria, descobriu o vírus/verme “Duqu” (BENCSÁTH et al., 2011), que seria, ao mesmo tempo, uma variação e uma primeira fase, para coleta de informações, de um possível ataque futuro do Stuxnet – cerca de 50% do código de um é igual ao do outro. O objetivo do Duqu é buscar informações que possam ser úteis para ataques a sistemas de controle industrial, podendo ter aberto as portas para a ação do Stuxnet. Somando-se a estes, pode-se mencionar também o vírus “Stars”, descoberto no Irã em abril de 2011, verme que tinha por objetivo danificar sistemas do governo iraniano (YONG, 2011). E como estes ataques cibernéticos ao Irã podem ser melhor compreendidos? Embora não seja possível, pelo menos até agora, identificar os responsáveis pela fabricação dos vírus/vermes mencionados, é possível entender tais malwares inseridos no quadro mais amplo dos desentendimentos de alguns países ocidentais – mais especificamente os Estados Unidos, Israel e Inglaterra – em relação ao programa nuclear iraniano. Existe uma desconfiança destes países de que Teerã possua uma espécie de “programa nuclear paralelo”, escondido das inspeções dos funcionários da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), tendo por objetivo desenvolver tecnologia que possa ser usada na construção de um artefato nuclear (o Irã, por sua vez, nega). A opção de tentar parar os avanços nucleares iranianos através de um conflito armado aberto teria custos muito altos. Dessa forma, outros meios estariam sendo usados. Entre eles, as atuais sanções econômicas, que visam a estrangular a economia do Irã (e, dessa forma, tentar desestabilizar o regime), e as chamadas operações encobertas. Os vírus de computador seriam uma das dimensões destas operações encobertas, ao lado do assassinato de cientistas iranianos (um relato interessante sobre esta “guerra encoberta de inteligência” contra Teerã pode ser encontrado em STEWART, 2011). A notícia do vírus “wiper” apareceu quase que simultaneamente a outra notícia: trata-se de entrevista do Major General Benny Gantz, comandante do Estado-Maior israelense, ao diário israelense Yediot Ahronot (AP, 2012). Gantz afirma que deu a ordem para as forças sob seu comando ampliarem as operações encobertas (as quais ele também chama de operações especiais) em países inimigos. Além disso, em um discurso aberto pronunciado em 2010, o atual diretor do MI-6 (serviço secreto exterior britânico, popularizado por James Bond), Sir. John Sawers, enfatizou a necessidade de operações de inteligência para dificultar que países como o Irã desenvolvessem armas nucleares (THE GUARDIAN, 2010). Só que os vírus/vermes direcionados contra o Irã não devem ser vistos apenas no contexto dos desentendimentos em torno do programa nuclear iraniano. Também devem ser examinados em um quadro emergente, e ainda cinzento, nas relações internacionais: os conflitos cibernéticos. Embora as hipóteses de conflitos no ciberespaço tenham sido previstas desde os anos 1980, o tema passou a receber atenção mais recentemente, e vem ganhando bastante espaço na agenda política, principalmente nos Estados Unidos. Forças Armadas e agências de inteligência de vários países estariam preparando o campo de batalha cibernético, através de ferramentas como “bombas lógicas” e “portas dos fundos”, colocando explosivos virtuais em outros países em tempos de paz. Dessa forma podemos entender melhor os vírus detectados no Irã. Uma definição possível de guerra cibernética seria a penetração não autorizada – por algum governo – de um computador, ou uma rede de computadores, de outra nação, ou qualquer outra atividade que viesse a afetar um sistema de computador, atividade esta na qual o objetivo seria adicionar, alterar ou falsificar dados, ou causar alguma ruptura ou dano a um computador, a algum dispositivo de rede ou aos objetos controlados por um sistema de computadores (CLARKE; KNAKE, 2010). Assim, através desta definição é possível perceber que haveria, sim, uma guerra cibernética em curso contra o Irã, ainda que não declarada e disfarçada de operação encoberta. Os conflitos cibernéticos são mais um elemento complicador nas já complexas relações internacionais contemporâneas.
 Referências bibliográficas
 ASSOCIATED PRESS. “Military chief: Israel increases covert operations”. Yahoo! News, Apr. 22, 2012. Disponível em: . Acesso 26 abr. 2012.
 BENCSÁTH, Boldizsár; PÉK, Gábor; BUTTYÁN, Levente; FÉLEGYHÁZI, Márk. Duqu: A Stuxnet-like malware found in the wild. Technical Report by Laboratory of Cryptography and System Security (CrySyS), Budapest University of Technology and Economics, 14 oct. 2011. Disponível em: . Acesso 26 abr. 2012. 
 CLARKE, Richard A.; KNAKE, Robert K. Cyberwar: The Next Threat to National Security and What to Do About It. HarperCollins e-books, 2010. 
 FALLIERE, Nicolas; MURCHU, Liam O.; CHIEN, Eric. W32.Stuxnet Dossier. Symantec Security Response, Version 1.4, February 2011. Disponível em: . Acesso 26 abr. 2012. 
 GROSS, Michael Joseph. “A Declaration of Cyber-War”. Vanity Fair, April, 2011. Disponível em: . Acesso 26 abr. 2012.
 STEWART, Scott. “The Covert Intelligence War Against Iran”. Stratfor Security Weekly, Dec. 8, 2011. THE GUARDIAN. “Sir John Sawers’s speech – full text”. The Guardian, 28 October 2010. Disponível em: . Acesso 26 abr. 2012. 
 YONG, William. “Iran Discovers New Cyberattack”. The New York Times, April 25, 2011. Disponível em: . Acesso 26 abr. 2012. 
 Bernardo Wahl G. de Araújo Jorge é Mestre em Relações Internacionais e Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP e Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU-SP (bernardowahl@gmail.com) 
VIA: http://mundorama.net/2012/04/27/guerra-cibernetica-em-acao-examinando-o-virus-de-computador-que-contaminou-o-sistema-de-infra-estrutura-petrolifera-do-ira-por-bernardo-wahl-g-de-araujo-jorge/

Eu já fui casado com uma árvore de Natal


Estava navegando pela internet- já sou contra-almirante do Google, aliás, ser do contra talvez seja minha maior especialidade!- quando me deparo com um citadino ( cultura, suas bestas! ), que anda apaixonado por sua árvore de Natal e quer desposá-la, no início me espantei, mas logo me dei conta que já fui casado com uma, não vou dizer qual, mas meu filho vai identificar quem é...ai...ai... O raio da mulher-árvore de Natal levava umas quatro, cinco horas para se aprontar, no mínimo, sem exageros, eu juro pela vida de meu único e amado filho, e ele é testemunha. Foi só escrever que só tenho um filho e Toy mordeu meu pé aqui, são dois filhos que tenho, um que fala e o outro que late. Ambos têm ciúmes de mim, sinal que ao menos bom pai devo ser, mas a minha árvore de Natal se enfeitava tanto, mesmo fora do Natal, que quando tínhamos um compromisso, um casamento por exemplo, marcado para às 18 horas eu dizia que seria umas três horas mais cedo e ela ficava pronta cerca de uma ou duas horas da data verdadeira, neste meio tempo eu ia beber, ai já viram... a minha árvore de Natal ficava irritada e emburrada e eu rindo dos excessos dela. Parecidos, mas não iguais, aos enfeites da minha árvore só os da árvore da Lagoa no Rio. Ainda bem que não disse quem é a minha ex-árvore natalina , se ela souber...tô rachando de rir sozinho aqui...Hi! Hi! Hi! Hi! A reportagem do sujeito que quer casar com sua árvore de Natal está no Jornal Ciência Postado por Zatonio Lahu
MODIFICADO DE: http://www.interrogaes.com/2011/12/eu-ja-fui-casado-com-uma-arvore-de.html

A fantasia além do desenvolvimentismo


Nos tempos de Lula, se ouvia que a tônica do governo era a mudança. Veio Dilma e essa deixou de ser a palavra que melhor define. Agora é crescimento. Ouve-se o tempo todo a palavra crescimento. Continuar crescendo se tornou quase uma obsessão  nas falas da presidenta, ministros e apoiadores.
A impressão é que o governo Dilma se guia por uma prancheta, alimentada de dados pelo Banco Central, IBGE e IPEA, e a partir dela aplica uma equação de primeiro grau. Basicamente: a gente aumenta o PIB em x % ao ano, paga as contas, sustenta alguma agenda social e administra, com eficiência, o que sobrar. Assim, a gente vai tirando o país do atraso e leva os milhões que faltam à classe média. E vai se reelegendo com os indicadores, pois o projeto é de longo prazo. Em 20 anos, seremos um país de primeiro mundo, respeitado lá fora e digno de orgulho aqui dentro. Eis o caminho. E conhecido o caminho, o caso é acabar com a corrupção, a ineficiência e o amadorismo, os nossos maiores problemas. Ou seja, problemas técnicos. Nada que uma gestão honesta e trabalhadora, determinada a superar o passado, não possa resolver. A política está resolvida no principal. Este é um governo sério, firme, tem uma boa equipe, e vai se aliar com quem for preciso contanto mantenha o controle global sobre o navio. Não somos intransigentes,  e sabemos fazer política como tem de ser feito, na correlação de forças. Não há alternativa à esquerda.
O discurso mais arcaico se conjugou com o mais futurista. O milenarismo do Brasil Eldorado, — utópico como Brasília e tão antigo quanto os portugueses da Ordem de Cristo, — caminha de mãos dadas com o ímpeto modernizante do velho positivismo, seja ele medioclassista-udenista, economicista-cepalino ou socialista-estatista. Dentro da fórmula mestre, tem espaço para a diversidade, a sustentabilidade, para o politicamente correto e a cultura como perfumaria, — desde que não se conteste o principal. Fora da fórmula, se é classificado como fora do tom, amador, fantasioso, anacrônico, pífio — ou simplesmente criminoso e, no limite, terrorista. Sucede um tom com conotações morais e moralizantes que define o discurso, a prática e a postura do governo e do que o governo espera dos cidadãos. É a antropologia do brasileiro piccolo-piccolo-borgheseque acorda cedo e paga os impostos e deseja o melhor para os filhos e acha o suprassumo do engajamento ético indignar-se com os políticos que roubam (e isto é o máximo que consegue elaborar no escasso tempo de vida livre). Aos novos brasileiros em suas breves ascensões sociais, deve-se confiar no governo, e trabalhar, trabalhar, trabalhar. Um republicanismo cívico cujo progressismo se limita a cidadãos que votam, têm emprego e gozam de direitos reconhecidos. E basta de abstrações! Primo mangiare, dopo filosofare!
É como se não estivesse em curso a maior crise mundial desde a quebra da bolsa de 1929. Como se a crise fosse um problema dos outros. Estaríamos imunes, ou melhor, seríamos os grandes beneficiários da crise. O espaço nacional como o nosso lugar oculta o fato que não pode existir um capitalismo nacional, brasileiro. O nacional-brasileirismo elude a posição contingente que ocupamos. A economia do globo é uma só, atravessada por tendências e contratendências, que buscam se compensar. A crise global se instaura quando os lucros astronômicos da classe rentista não podem mais ser sustentados. Cessado o butim, essa classe se reestrutura sob a direção superior de seus gênios e think tanks. Os grande financistas passam a sondar, como salvação da lavoura, outros mercados, em extensão e intensivamente. E nessa atividade de prospecção, identificam as enormes jazidas humanas da América do Sal e do Sol. Onde o homem é barato, a polícia é militar e governos firmes fabricam o consenso, o orgulho e o medo, — necessários para organizar e garantir a exploração do trabalho. Jazida humana e governo firme, o binômio que confere confiança aos mercados, isto é, garantias que o butim pode continuar e se aprofundar, sem grandes comoções. O estado sempre foi o método mais privado do ganho. Os fluxos de dinheiro-poder escoam do norte para o sul, para fortalecer a governabilidade mesma de que precisam para voltar a lucrar suas fábulas. E assim são mobilizadas as populações ao trabalho, e assim é forjada a antropologia ao homem nacional: cidadão honesto e trabalhador que assiste à TV, sem devir de raças. As elites internacionalistas e os governos nacionalistas impõem desenhos globais a histórias locais, numa subjetividade bombardeada de breve ascensões, delgadas autoestimas e muita comunicação de massa.
Não é verdade que os fluxos de dinheiro-poder determinam fluxos de subjetividade e não há saída da sinuca. As pessoas não são ratos de Pavlov movidas por percepções e necessidades imediatas. Quanto melhor, não é pior, como resmunga o esquerdismo, que quer mais é ver o terceiro mundo explodir. Não. Quanto melhor, melhor e quanto pior, pior. Se é conferida a chance de a pessoa querer, ela vai querer mais e sempre mais. Em contextos de crescimento econômico, proliferam dissidências, insatisfações, indignações, desejos que ficam pelo caminho, sintetizados em projeto de Brasil e brasileiro. Nesse contexto, a generalizada crítica ao desenvolvimentismo tem de ir muito mais além. Essa ficou fácil demais. Está sendo reabsorvida pelo papo malthuseano da sustentabilidade, do decrescimentismo, da catástrofe. As muitas economias verdes prometem redimir a desigualdade social. Nada mais conservador. Destruir o nacional-desenvolvimentismo não significa deixar as coisas como estão. Não se pode ceder a ideia da superabundância, de um regime amazônico-tautegórico de produção, saturado de socialidade e virtualidades de ser, que é a única força capaz de devastar a economia e abrir o agora ao comunismo.
A construção da alternativa ao Brasil Maior, este Brasil de Dilma, depende de uma remodelação muito mais profunda que trocar o governo, criticar o desenvolvimentismo ou mesmo assumir as opressões e minorias como operadores de uma política dos excluídos. O jogo pode ser mais alto, e os desejos reais da geração nos concedem as bases para ousar mais alto. Não há que se falar em mais esquerda, com seus projetos incapazes. É voltar à prancheta na imanência dos movimentos. É questão de métrica, de como des-medir a abundância e des-travar o excesso, des-quantificar e re-qualificar: o reenvolvimentismo aprofundado e a esquizoanálise altermundista. Isso já está aí, debaixo de nossas pupilas. É reatualizar a própria noção de viver bem, como fazem os indigenistas sul-americanos e ameríndios, na experiência do comum. A boa vida qualitativa e o boa-vida que recusa o trabalho explorado. É rearticular a relação entre governo e movimento, que vem sendo sucessivamente rompida no Brasil, na Argentina, na Bolívia, no Equador, — onde podíamos, até pouco tempo atrás, depositar o nosso otimismo. Se os tijolos completam a parede da burrice mais convencional e de toda a mediocridade circundante, este é um tempo-chave para poetas, filósofos e cineastas. Para a húbris de quem não se adapta. E que saibam atirar pedras, pois a fantasia também veste botas.
FONTE:
http://www.quadradodosloucos.com.br/2839/a-fantasia-alem-do-desenvolvimentismo/