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sábado, 31 de março de 2012

fim de fevereiro

Texto: Alan

Na minha rua passam cavalos, de vez em quando, de noitinha, dá pra escutar de longe, a rua não é asfaltada, e fica tudo escuro, só o céu iluminado, de vez em quando também passa avião piscando, até disco voador, eu já vi, eu e minha mãe, e quando vai amanhecendo a gente sente o cheiro de café, lá pelas quatro ou cinco da manhã, o galo canta e os vizinhos vão pras ruas, os mais velhos ficam nas janelas e logo as pessoas vão para fabrica trabalhar. Na minha rua tem uma fábrica antiga, de tecidos, coisa assim.

Aqui é cheio de crianças de tardinha, ficam nas ruas pulando elástico, brincando de cházinho ou polícia e ladrão, e tem uma vizinha que vende picolé e chup-chup, o picolé é um real, o chup-chup é cinquenta centavos e tem daquela cor azul que pinta a língua, aí as pessoas vão passando pelas ruas e as crianças vão mostrando as línguas.

A gente sente o cheiro de natal aqui na minha rua desde novembro, e quando dá dezembro o povo acende uma árvore de natal gigante que tem lá no alto do morro, e é tão antiga essa árvore de natal, que se no próximo ano ela não acender é capaz até de ter morrido pela idade que ela tem.

A rua da minha casa se chama “vinte e sete de abril”, que é o aniversário da minha cidade, e a minha cidade é um lugar lindo de se viver, e quando chega fim de fevereiro é sempre a mesma coisa, aqui pra mim, no escuro da minha rua:

é essa vontade de ficar na minha cidade com as crianças da vizinhança, com o cheiro de café quatro ou cinco da manhã, com o barulho dos cavalos galopando lá no fundo, no fundo da minha rua, no fundo, bem no fundo, onde eu jamais saí, onde eu jamais me mudei, onde eu sempre morei, com meu pai, minha mãe e o meu irmão.
MODIFICADO DE: http://alanblair.wordpress.com/2010/02/22/fim-de-fevereiro/

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